Os cem dias de governo de Mauricio Macri
O Comitê Executivo da UNI América expressa sua preocupação pela situação existente na Argentina, onde o novo governo está levando adiante uma agressiva política de desigualdade social, favorecendo aos grupos mais ricos do país e aos fundos abutre, e empobrecendo ao resto da população. Em poucos meses foram emitidos dezenas de decretos de necessidade e urgência, através dos quais se revogaram leis ditadas pelos representantes do povo, entre elas as que estabeleciam princípios equitativos e solidários para o tratamento da dívida externa e a lei de meios sancionada como resultado de um amplio debate público para estabelecer um sistema de meios de comunicação democrático e não monopólico.
Nos primeiros cem dias de governo foram demitidos dezenas de milhares de trabalhadores e trabalhadoras estatais, violando seus mais elementares direitos a uma mínima estabilidade no trabalho e utilizando argumentos discriminadores e ofensivos. Produziram-se aumentos enormes nas tarifas dos serviços públicos, que reduziram brutalmente o poder aquisitivo dos salários para as famílias trabalhadoras, com uma queda do 10% somente para os dois primeiros meses. A Universidade Católica Argentina informou que, segundo seus cálculos, no primeiro trimestre de 2016, um milhão e seiscentos mil pessoas caíram sob a linha da pobreza e 350 mil pessoas mais caíram na indigência. Eliminou-se também o regime de aposentadoria estabelecido para pessoas maiores de idade que tinham sido mantidas “em negro” por seus empregadores. Reduziram-se fortemente os impostos que pagavam as empresas exportadoras de grãos e as grandes empresas mineiras, enquanto simultaneamente se aumentou a quantidade de trabalhadores que devem pagar imposto aos lucros. O governo nacional favoreceu discricionariamente à Cidade de Buenos Aires, a mais rica do país, em prejuízo das outras províncias, usando os fundos públicos para forçar às províncias a apoiar seus decretos e projetos de lei.
A queda do consumo produzida pelo aumento da pobreza e a redução do salário real produziu ao mesmo tempo, a destruição de dezenas de milhares de postos de trabalho, aumentando bruscamente a desocupação. A União Industrial Argentina (UIA) anunciou que poderiam destruir-se entre cem mil e duzentos mil postos de trabalho, aos que devem somar-se pelo menos duzentos cinquenta mil jovens que ingressaram este ano ao mercado e não encontrarão emprego. Entre as pessoas demitidas do setor público, as demissões já realizadas e as anunciadas pelas empresas, e os jovens ingressantes ao mercado de trabalho, a quantidade de novos desocupados poderia superar com conforto as 500 mil pessoas, equivalente a uma subida de dois pontos e meio do índice de desocupação.
O novo governo desmantelou as áreas do Estado que tinham como função pesquisar e evitar as fugas de capital e a lavagem de dinheiro, designando à frente das mesmas aos advogados defensores das empresas acusadas nacional e internacionalmente de lavagem. O escândalo mundial dos Papeis de Panamá expor a luz que o presidente Macri é um dos cinco chefes de Estado que aparecem com empresas fantasmas nos paraísos fiscais. Além do Presidente apareceram na lista alguns de seus principais sócios, funcionários e familiares, ao mesmo tempo que tanto o ministro de Economia quanto o presidente do Banco Central se encontram comprometidos em causas de fuga de capitais, e no caso do último deles processado pela Corte Suprema.
A grande mídia monopólica está blindando ao governo, ocultando informações relevantes para os cidadãos. Conflitos como o da Associação Bancária, com acampamento frente ao banco e manifestações de protesto, que se prolongam já quase por dois meses, têm recebido uma atenção mínima de parte dos grandes meios hegemônicos. O escândalo pelos Papeis de Panamá tem desaparecido dos portais dos principais meios, apesar que o Presidente está sendo investigado.
O Comitê Executivo da UNI Américas expressa seu apoio à Associação Bancária e a sua luta contra a demissão arbitrária de trabalhadores e trabalhadoras do Banco Central, se solidariza com o movimento sindical e assinala sua satisfação pelos passos que as diversas centrais estão dando na busca de unidade de ação frente à grave situação pela que está atravessando o povo argentino.
A UNI Américas acompanhará de perto a situação social e institucional da Argentina, exigindo aos organismos nacionais e internacionais competentes que se anulem as medidas tomadas em prejuízo dos direitos laborais e as garantias democráticas, ao mesmo tempo que se investigue até as últimas consequências a eventual comissão de delitos por parte dos funcionários envolvidos nos fatos mencionados.